Entendo a razão pela qual minha editora exige dos postulantes a novos autores de nosso catálogo, juntamente com seus originais, uma carta de apresentação. O que não entendo é ser obrigado a ler, já entrando na segunda década do século XXI, tolices como estas:
"Escrevo na esperança de que esta editora tenha a ousadia de publicar o que nenhuma outra editora do país teve a coragem até hoje."
"Se vocês da editora me convencer de publicar este romance com vocês, estarão abrindo um novo caminho na história da literatura brasileira."
"Sempre tive muita vontade de escrever e se vocês me derem essa chance de publicar o meu livro será um grande incentivo para que eu continue a carreira de escritora. Talento eu já tenho de sobra, sou uma vencedora."
"Não há nada de mais moderno no mercado, tenho certeza que este livro irá vender muito."
Todas as transcrições são literais. Acreditem.
Humildade é essencial para um escritor, é o que leva à autocorreção, à busca pela perfeição, à luta incessante com as palavras. É essencial para um escritor descer do pedestal onde o colocaram, mais ainda evitar construir para si mesmo tal pedestal. O escritor que se acredita o que há "de mais moderno no mercado", ou que seu livro abrirá "um novo caminho na literatura", está fadado ao fracasso. Mesmo os deuses sabiam olhar para os homens e com eles aprender algo novo.