sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Prezado editor

Pergunta-me em missiva eletrônica um postulante a escritor: "O que devo fazer para me tornar um escritor famoso?" Ah, e a educação ordena que eu não deixe uma carta sequer sem resposta - uma mania terrível que tenho, quase uma sentença de morte para quem, como eu, tem por tarefa ler originais e decidir sobre seu futuro. Nenhum desses livros-por-publicar jamais ficou sem uma resposta minha, essa mensagem também não ficará. Mas prefiro escrever aqui minha resposta ao rapaz.

O melhor caminho para se tornar um escritor famoso é não se preocupar com isso.

Explico-me: o escritor que começa a escrever um livro pensando que aqueles rascunhos serão a futura febre nas livrarias quase nunca consegue atingir tal propósito, muitas vezes sequer chega a concluir o seu trabalho. O verdadeiro escritor está tão preocupado em escrever que não tem tempo para pensar em fama, fortuna, glamour - até porque isso é raridade no mundo dos livros e muito mais fácil de ser obtido por outros meios menos nobres na música ou na televisão. J. K. Rowling começou a desenhar a sua série de livros sobre um bruxinho órfão na mesa de um café enquanto pensava em como iria resolver a sua situação entre um emprego e outro. J. R. R. Tolkien escreveu seu monumento de literatura fantástica ao longo de vinte anos, criando línguas imaginárias e povos com suas culturas e modos próprios de viver e lutar pelo empenho pessoal de criar o que seria uma mitologia dos saxões e dos anglos jamais registrada - e não porque quisesse se tornar um best-seller. Da mesma maneira surgiram tantos outros autores cujos nome hoje são celebrados, mas que em vida praticamente escreviam para si próprios. 

Talvez o melhor caminho para se tornar um escritor de sucesso seja, em verdade, ter sorte. Mas não uma sorte oriunda dos deuses, como dávida - falo de uma sorte construída com muita leitura, estudo, prática. A fama é uma decorrência de tudo isso. Ou não. Nunca se sabe. Há livros que vendem milhares e milhares de cópias sem que o autor tenha talento, dedicação ou apuro literário. O mercado editorial é um dos mais vulneráveis e volúveis que existe, controlado por loucos e apaixonados por livros na mesma medida em que as regras são ditadas por muita gente que vê no livro apenas um monte de papel encadernado que rende dinheiro.

Portanto, jovem escritor, continue escrevendo. Leia, escreva, reflita, reescreva - mas afaste os sonhos de fama do horizonte. Quando ele, o sucesso, surgir no seu caminho, você irá reconhecê-lo de imediato.