Depois de dois meses emendando uma licença médica e férias, estou de volta à mesa de trabalho e deparo-me com uma pequena pilha de originais para avaliar. Parece-me que, por alguma estranha razão, os escritores iniciantes consideram maio um bom mês para submeter seus projetos.
Foi uma boa saudação de boas vindas de regresso ao trabalho: cinco livros de poemas sofríveis - mesmo tendo um aviso no site da editora sobre a nossa linha editorial, que não inclui poesia, recebemos um sem-número de volumes de poesia primária; um romance em primeira pessoa cuja linguagem me leva a crer que tenha sido escrito por um burocrata do século XIX; um outro romance de pelo menos oitocentas páginas, com um início risível; três volumes de (odiosos) minicontos; e, salvação, um bom livro de histórias para crianças.
Muita gente acredita que escrever para criança é reduzir o vocabulário ao nível da tolice e inserir em qualquer história fraca uns elementos pretensamente didáticos. Esses dias recebi um original que contava uma história de bruxas ('Hary Potter'?) e vampiros do bem ('Crepúsculo'?) que viajam pelo Brasil conhecendo os costumes de cada estado. O livro era uma sucessão de preconceitos regionais, jamais indicado para uso em escolas, como a autora insistia em sua carta de apresentação. Mas não duvido que, a essa altura, já tenha conseguido quem a publique. Mas esse outro que tenho em mãos é daqueles livros infantis que apaixona os adultos, pois fala de certa inocência perdida e com tal singeleza e profundidade que estou inclinado a sugerir sua publicação.
Enfim, de volta ao trabalho e às dores e delícias do ofício de editor.