sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"Quero apenas uma dica..."


Foram mais de oito e-mails do mesmo rapaz. 


Senhor Sísifo: sei que o senhor fez seu doutorado em Letras na universidade X e quero apenas uma dica.


Simpático e ignorando a pilha de originais a me aguardar sobre a mesa, escrevi com calma - e em linhas gerais - sobre o doutorado concluído há alguns anos.


Senhor Sísifo: obrigado pelas informações. Quero apenas mais uma dica. Gostaria de saber com quem devo conversar para conseguir uma vaga no mestrado, se o curso é pago e quanto custa.


Perguntas razoáveis, pensei. Em duas linhas, respondi o perguntado e despedi-me com o meu habitual "Mãos à obra!" tão irritante para muitos de meus clientes-escritores. Mas não foi o suficiente.


Senhor Sísifo: quero apenas mais uma dica. O senhor saberia me dizer se é preciso fazer prova de proficiência em língua estrangeira? Se é necessário, pode ser feita em alguma língua que não seja o inglês? Nesse caso, o senhor me recomenda qual idioma para quem nunca fez um curso regular? 


As respostas começavam a tomar mais que os trinta segundos que gasto, em média, para responder cada autor iniciante que me manda o endereço de blog para que eu o descubra ou os clientes que em menos de um mês depois da entrega dos originais querem saber se já foram indicados ao Prêmio Jabuti. Quis dar um basta: enviei o link da universidade onde fiz doutorado - torcendo para que eles não o aceitassem - e de duas outras da nossa região que oferecem mestrados em Letras, algumas de qualidade muito duvidosa. E não recomendei língua estrangeira nenhuma, pois não tenho conhecimento para isso e, enfim, já bastava daquela torrente de mensagens. Foi então que a máscara caiu.


Senhor Sísifo: obrigado por todas as dicas, vou guardá-las para quando terminar a faculdade já saber o que fazer. Mas o senhor percebe que sou um rapaz esforçado, interessado, e queria aproveitar para lhe enviar em anexo o original de um romance que escrevi quando eu tinha quinze anos de idade e...

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